HISTÓRIA
LUGAR DE ARNELAS
O lugar de Arnelas foi, muitos anos atrás, local de intenso movimento e um porto fluvial de importância. O ancoradouro da margem do rio prestava-se à paragem, entrada e saída de barcos, e a situação do local favorecia o entreposto dos géneros e o movimento de pessoas. Não admira, por isso, que a povoação se tenha desenvolvido. Hoje o lugar tem menos movimento e o porto praticamente desapareceu. Mas é uma zona que merece particular atenção. O P.de Luis Cardoso no primeiro volume do seu “Dicionário Geográfico …” publicado em 1747 escreve a propósito desta povoação:
“Há neste lugar de Arnelas passagem contínua e fácil para a parte de além do Douro, onde desagua nele o rio Sousa, com a mesma prontidão e barateza que na cidade do Porto. É uma das principais escalas do rio Douro e, por isso, frequentado de grandes barcos, que o navegam até onde é navegável, porque quase todo o sal que se fabrica nas marinhas de Aveiro, donde pelo rio se transporta a Ovar e daí em carros para Arnelas, daqui é conduzido pelos mesmos barcos pelo Douro acima até Foz do Tua e Baleira do Cachão, provendo-se dela as duas províncias de Trás-os-Montes e Beira, sendo a sua extração em tanta quantidade que muitos anos se têm embarcado para aquelas partes cem mil rasas, medida tão grande que uma delas tem quatro de Lisboa, pois um moio desta cidade apenas deita quinze rasas daquele lugar.
O vinho que vem pelo Douro e se desembarca nele (lugar de Arnelas) é tanto que provê quase todo o termo da Feira e grande parte do do Porto, e há neste lugar muitos mercadores e capazes armazéns em que se recolhe. Este é o maior labor de que vivem os moradores, porque a terra, por ser algum tanto montuosa e alcantilada, tem poucos lavradios e só tem algumas quintas que de Verão a fazem alegre e aprazível”.
Diz, ainda, a propósito do rio Douro na zona de Arnelas:
“Há bastante pescaria, assim de lampreias e sáveis, que se pescam nas pesqueiras e arcos vizinhos, como de toda a mais casta de peixe que cria o Douro. De todos os mais víveres é bastantemente provida pela vizinhança da cidade do Porto”.
CAPELA DE ARNELAS
O P.de Luís Cardoso no referido Dicionário Geográfico (1747) fornece-nos preciosas informações sobre a capela existente no lugar:
“Fica este lugar distante da freguesia espaço de uma grande meia légua, e por isso tem capela para o povo, a qual foi fundada haverá cem anos pela mesma freguesia para dela se administrar o Sagrado Viático aos enfermos; e, sendo esta pequena, se deliberaram zelosos os moradores deste lugar a pedir a Sua Majestade o Senhor Rei D. João V, que Deus guarde, provisão para se lançar um real em cada quartilho de vinho e cada rasa de sal que se vendesse em todo o Couto (Crestuma) para reedificação ou ampliação da dita capela, que com efeito se lhes concedeu; e correndo alguns anos, de seis que lhe foram concedidos, se lançou a primeira pedra no novo edifício em 20 de Outubro de 1723, desobrigando-se o mais corpo da freguesia da fábrica dela; e continuando com incansável zelo de alguns moradores se concluiu de paredes e tecto a capela-mor, em que se celebrou a primeira Missa em dia da Ascensão de Cristo do ano de 1727. Porém, por se acabarem os anos da provisão, parou a obra, e ainda que já se lhe concedeu outra de novo, até agora se não continuou com o corpo da ermida, que ainda falta.
É esta capela, para a pequenez do lugar, obra certamente sumptuosa e depois de acabada não haverá nas freguesias vizinhas melhor templo. Acha-se já bastantemente provida de ornamentos e tem um grande cálice dourado e outro mais pequeno para uso comum. Tem um nobilíssimo retábulo com sua tribuna, obra moderna, que se fez no ano de 1732 por particular esmola e devoção de um morador do lugar. Nele está colocado o sagrado apóstolo e evangelista S. Mateus, ao qual é dedicada, e, em correspondência dele Santo Tomás de Aquino; e na tribuna uma perfeita imagem de Cristo cruxificado com o título de Bom Jesus do Triunfo. A capela é de uma só nave e os dois altares colaterais estão destinados, o da parte do Evangelho para Santa Ana e o da parte da Epístola para Santo António”.
Resumindo, as informações do P.de Luís Cardoso fornecem os seguintes dados e carácter histórico: - No lugar existia uma pequena capela um pouco anterior aos meados do século XVII. Era de pequenas dimensões. Os moradores decidiram construir uma capela mais ampla. Para este efeito conseguiram de Dom João V, por um período de seis anos, o imposto de um real em cada quartilho de vinho e em cada rasa de sal vendidos dentro do Couto de Crestuma, a que Arnelas pertencia. A primeira pedra do novo templo – capela atual – foi lançada em 20 de Outubro de 1723. Concluiu-se a capela-mor. Nela se celebrou a Missa no dia da festa da Ascensão do Senhor de 1727. Os moradores conseguiram nova concessão do referido imposto sobre o vinho e sal vendidos no mencionado Couto. Tem um nobilíssimo retábulo com sua tribuna, obra moderna, que se fez no ano de 1732, por particular esmola e devoção de um morador do lugar. Tem três altares, em o maior está Cristo cruxificado, com o título do Senhor do Triunfo, e dos lados São Mateus, padroeiro, e São Tomás de Aquino, e, nos altares colaterais, em um Santa Ana com S. José e S. Joaquim, em outro Santo António, Santo Ildefonso e São Sebastião.
A capela como obra de arquitetura não tem grande valor. Particular interesse e valor tem o retábulo-mor e os retábulos colaterais com preciosas imagens. Deles nos vamos ocupar seguidamente, com algum desenvolvimento.
LUGAR DE ARNELAS
O lugar de Arnelas foi, muitos anos atrás, local de intenso movimento e um porto fluvial de importância. O ancoradouro da margem do rio prestava-se à paragem, entrada e saída de barcos, e a situação do local favorecia o entreposto dos géneros e o movimento de pessoas. Não admira, por isso, que a povoação se tenha desenvolvido. Hoje o lugar tem menos movimento e o porto praticamente desapareceu. Mas é uma zona que merece particular atenção. O P.de Luis Cardoso no primeiro volume do seu “Dicionário Geográfico …” publicado em 1747 escreve a propósito desta povoação:
“Há neste lugar de Arnelas passagem contínua e fácil para a parte de além do Douro, onde desagua nele o rio Sousa, com a mesma prontidão e barateza que na cidade do Porto. É uma das principais escalas do rio Douro e, por isso, frequentado de grandes barcos, que o navegam até onde é navegável, porque quase todo o sal que se fabrica nas marinhas de Aveiro, donde pelo rio se transporta a Ovar e daí em carros para Arnelas, daqui é conduzido pelos mesmos barcos pelo Douro acima até Foz do Tua e Baleira do Cachão, provendo-se dela as duas províncias de Trás-os-Montes e Beira, sendo a sua extração em tanta quantidade que muitos anos se têm embarcado para aquelas partes cem mil rasas, medida tão grande que uma delas tem quatro de Lisboa, pois um moio desta cidade apenas deita quinze rasas daquele lugar.
O vinho que vem pelo Douro e se desembarca nele (lugar de Arnelas) é tanto que provê quase todo o termo da Feira e grande parte do do Porto, e há neste lugar muitos mercadores e capazes armazéns em que se recolhe. Este é o maior labor de que vivem os moradores, porque a terra, por ser algum tanto montuosa e alcantilada, tem poucos lavradios e só tem algumas quintas que de Verão a fazem alegre e aprazível”.
Diz, ainda, a propósito do rio Douro na zona de Arnelas:
“Há bastante pescaria, assim de lampreias e sáveis, que se pescam nas pesqueiras e arcos vizinhos, como de toda a mais casta de peixe que cria o Douro. De todos os mais víveres é bastantemente provida pela vizinhança da cidade do Porto”.
CAPELA DE ARNELAS
O P.de Luís Cardoso no referido Dicionário Geográfico (1747) fornece-nos preciosas informações sobre a capela existente no lugar:
“Fica este lugar distante da freguesia espaço de uma grande meia légua, e por isso tem capela para o povo, a qual foi fundada haverá cem anos pela mesma freguesia para dela se administrar o Sagrado Viático aos enfermos; e, sendo esta pequena, se deliberaram zelosos os moradores deste lugar a pedir a Sua Majestade o Senhor Rei D. João V, que Deus guarde, provisão para se lançar um real em cada quartilho de vinho e cada rasa de sal que se vendesse em todo o Couto (Crestuma) para reedificação ou ampliação da dita capela, que com efeito se lhes concedeu; e correndo alguns anos, de seis que lhe foram concedidos, se lançou a primeira pedra no novo edifício em 20 de Outubro de 1723, desobrigando-se o mais corpo da freguesia da fábrica dela; e continuando com incansável zelo de alguns moradores se concluiu de paredes e tecto a capela-mor, em que se celebrou a primeira Missa em dia da Ascensão de Cristo do ano de 1727. Porém, por se acabarem os anos da provisão, parou a obra, e ainda que já se lhe concedeu outra de novo, até agora se não continuou com o corpo da ermida, que ainda falta.
É esta capela, para a pequenez do lugar, obra certamente sumptuosa e depois de acabada não haverá nas freguesias vizinhas melhor templo. Acha-se já bastantemente provida de ornamentos e tem um grande cálice dourado e outro mais pequeno para uso comum. Tem um nobilíssimo retábulo com sua tribuna, obra moderna, que se fez no ano de 1732 por particular esmola e devoção de um morador do lugar. Nele está colocado o sagrado apóstolo e evangelista S. Mateus, ao qual é dedicada, e, em correspondência dele Santo Tomás de Aquino; e na tribuna uma perfeita imagem de Cristo cruxificado com o título de Bom Jesus do Triunfo. A capela é de uma só nave e os dois altares colaterais estão destinados, o da parte do Evangelho para Santa Ana e o da parte da Epístola para Santo António”.
Resumindo, as informações do P.de Luís Cardoso fornecem os seguintes dados e carácter histórico: - No lugar existia uma pequena capela um pouco anterior aos meados do século XVII. Era de pequenas dimensões. Os moradores decidiram construir uma capela mais ampla. Para este efeito conseguiram de Dom João V, por um período de seis anos, o imposto de um real em cada quartilho de vinho e em cada rasa de sal vendidos dentro do Couto de Crestuma, a que Arnelas pertencia. A primeira pedra do novo templo – capela atual – foi lançada em 20 de Outubro de 1723. Concluiu-se a capela-mor. Nela se celebrou a Missa no dia da festa da Ascensão do Senhor de 1727. Os moradores conseguiram nova concessão do referido imposto sobre o vinho e sal vendidos no mencionado Couto. Tem um nobilíssimo retábulo com sua tribuna, obra moderna, que se fez no ano de 1732, por particular esmola e devoção de um morador do lugar. Tem três altares, em o maior está Cristo cruxificado, com o título do Senhor do Triunfo, e dos lados São Mateus, padroeiro, e São Tomás de Aquino, e, nos altares colaterais, em um Santa Ana com S. José e S. Joaquim, em outro Santo António, Santo Ildefonso e São Sebastião.
A capela como obra de arquitetura não tem grande valor. Particular interesse e valor tem o retábulo-mor e os retábulos colaterais com preciosas imagens. Deles nos vamos ocupar seguidamente, com algum desenvolvimento.